Quando você quer ser outra pessoa: como a comparação afasta você de si mesmo
- Laura Helena Martins
- 14 de out.
- 3 min de leitura
O cansaço de tentar ser alguém que não é
Talvez você já tenha sentido isso: olhar para alguém e pensar “queria ser como ela”. Queria ter aquele corpo, aquele estilo, aquele emprego, aquele jeito de viver.Em tempos de redes sociais, é fácil cair na armadilha da comparação. Mas quando a comparação vira rotina, ela passa a roubar algo muito importante — o contato com quem você realmente é.
Aos poucos, essa tentativa de ser “melhor” se transforma em um modo de fugir de si. É um tipo de desespero silencioso: o de não querer ser quem se é, e acreditar que a felicidade mora na vida dos outros.
O que acontece quando a comparação se torna o centro da vida
Quando vivemos comparando nossa história à de outras pessoas, o olhar se volta cada vez mais para fora. Passamos a medir nosso valor pela aparência, pelos resultados e pelas conquistas alheias.
Essa forma de viver, sustentada por uma busca constante por validação, mina a autoestima e alimenta a sensação de inadequação. De repente, tudo parece pouco: o que temos, o que somos, o que fazemos.
É aí que nasce o vazio — uma distância entre o que se é e o que se gostaria de ser.Muitos adultos descrevem isso como estar “travado”, “sem rumo” ou “sempre aquém”.
O preço de negar a si mesmo
A baixa autoestima muitas vezes não vem apenas de críticas externas, mas da recusa interna de aceitar quem se é. Negar o próprio jeito de ser, as próprias escolhas, ou até o próprio corpo, pode parecer um esforço para “melhorar” — mas, na prática, é um afastamento do que é mais genuíno em nós.
Viver tentando corresponder ao olhar do outro cria um tipo de dependência: é como se o valor de existir precisasse sempre ser aprovado por alguém.Com o tempo, isso gera cansaço, culpa e uma sensação constante de insuficiência.
É quando deixamos de habitar nossa própria vida, tentando viver a de outra pessoa.

O caminho da autenticidade
Na abordagem fenomenológica existencial, não há respostas prontas ou fórmulas de autoestima. Há, sim, o convite para olhar para dentro, com honestidade e curiosidade, sem buscar se encaixar.
É um processo de reconexão — de voltar a se escutar e se permitir existir com o que é, sem precisar se moldar a expectativas.A terapia pode ajudar a compreender quando e por que você começou a se comparar tanto, e o que tem deixado de viver ao tentar ser outro.
O primeiro passo é acolher a própria experiência, inclusive a dor de não se sentir suficiente. É a partir dela que nasce a possibilidade de mudança real.
Para refletir...
Em que momentos você percebe que está se comparando aos outros?
Quais padrões ou pessoas mais influenciam o modo como você se vê?
O que em você tem sido deixado de lado por medo de não ser aceito?
Reencontrar-se é um processo, não uma meta
Viver com mais autenticidade não significa nunca se comparar, mas aprender a reconhecer quando essa comparação está te afastando da sua própria história.
Buscar ajuda psicológica pode ser um passo importante nesse caminho. A psicoterapia fenomenológica existencial oferece um espaço para compreender como você se perdeu de si — e, aos poucos, redescobrir o valor de ser quem é, sem precisar ser outro.
