Comparação constante: quando você se perde dos próprios passos
- Laura Helena Martins
- 25 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: 31 de jul.
Comparação constante com os outros: como se reencontrar consigo
Você sente que está sempre se medindo pelos outros? Que, não importa o quanto você faça, sempre parece estar atrás, menos capaz, menos interessante ou menos produtivo? Em tempos de redes sociais, é comum viver preso à comparação constante com os outros — e isso afeta diretamente sua autoestima, seu foco e sua relação com o tempo.
A comparação adoece quando cria-se um véu que impede que você se veja com clareza. Quando você se cobra para acompanhar um ritmo que não é seu, ou se perde tentando seguir modelos que não refletem sua realidade, começa a se afastar de si mesmo.
Neste texto, vamos refletir sobre essa dinâmica à luz da fenomenologia social e do pensamento do filósofo Byung-Chul Han, especialmente em seu livro No Enxame: Perspectivas do Digital.(2018) Também vamos pensar em como a psicoterapia pode ser um espaço para resgatar o olhar próprio — aquele que não depende da validação externa.
Comparação constante e autoestima: o outro vira espelho distorcido
Redes sociais, métricas, vidas “bem resolvidas” em tempo real. Vivemos num cenário onde somos expostos, o tempo todo, ao sucesso, à beleza, à felicidade e à produtividade dos outros. Mas o que não vemos são os bastidores.
A comparação constante gera:
Sensação de insuficiência e inadequação;
Dificuldade de reconhecer suas próprias conquistas;
Baixa autoestima e insegurança;
Ansiedade por não conseguir “acompanhar” o ritmo alheio.
Nesse ciclo, o foco sai de si e se volta para fora. Em vez de construir um caminho próprio, você tenta seguir trajetos que não foram feitos para você.

Byung-Chul Han e a transparência exaustiva das redes: o eu sob vigilância
Em No Enxame, o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han discute como a sociedade contemporânea passou da exposição à superexposição. Todos estão o tempo todo visíveis, opinando, se comparando, competindo silenciosamente. Essa “transparência” não gera mais conexão — ela nos isola em bolhas de comparação e aparência.
Nesse contexto, o “enxame digital” transforma o outro não em alguém com quem nos relacionamos, mas em alguém contra quem nos medimos. Deixamos de nos perguntar: o que faz sentido para mim? E passamos a perguntar: como posso ser mais parecido com o que os outros aprovam?
A consequência é um esvaziamento de identidade e uma angústia constante: nunca ser suficiente
Você está se comparando... mas a partir de quê?
Algumas perguntas para refletir:
Você sabe de onde vêm os critérios pelos quais se mede?
O que você admira nos outros é realmente algo que quer para você?
Será que você está tentando seguir um modelo de vida que não tem a ver com seus valores?
A comparação nos desconecta da singularidade — e sem ela, é difícil se sentir inteiro.
Psicoterapia: um espaço para se ver com mais verdade
A psicoterapia oferece um lugar onde você pode desconstruir os filtros da comparação. Um espaço para olhar para quem você é, com compaixão, sem distorções e sem pressa.
Com o tempo, a terapia pode te ajudar a:
Compreender o impacto das comparações na sua autoestima;
Resgatar sua autonomia diante das redes e padrões sociais;
Reconstruir um olhar mais realista e afetuoso sobre si mesmo;
Reencontrar o prazer de ser quem você é, sem a necessidade de validação constante.
Você não precisa se parecer com ninguém para ter valor
Talvez você esteja cansado de tentar alcançar padrões que nunca te contemplaram. Talvez já tenha percebido que, quanto mais se compara, mais se distancia de si mesmo. E talvez, agora, seja a hora de fazer um movimento diferente: voltar para dentro.
A psicoterapia pode ser esse retorno. Um lugar para desacelerar, escutar o que é seu e começar a viver a partir da sua medida — e não da medida dos outros.