Coragem para sair de relacionamentos tóxicos: e agora?
- Laura Helena Martins
- 29 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 31 de jul.
Coragem para sair de relacionamentos tóxicos: quando você já sabe, mas ainda não consegue
Talvez você já tenha percebido que essa relação não te faz bem. Que você sai sempre mais cansado do que entrou. Que suas emoções não cabem ali, que o vínculo virou um lugar de tensão, medo ou dependência. E mesmo assim, você ainda não consegue ir embora.
Tomar consciência de que se está em um relacionamento tóxico — seja amoroso, familiar ou de amizade — é um passo imenso. Mas sair dele pode parecer ainda maior, por tudo que envolve: medo da solidão, culpa, insegurança, dúvidas.
Neste texto, vamos refletir sobre essa travessia à luz da fenomenologia-existencial e do pensamento do filósofo Søren Kierkegaard, que nos ajuda a entender a angústia como parte inevitável das escolhas reais. Também vamos falar de como a psicoterapia pode ser um espaço de apoio para construir coragem com verdade, e não com pressa.
Saber que faz mal não torna fácil partir: o afeto ainda pesa
É comum ouvir frases como “você tem que sair disso” ou “só depende de você”. Mas quem já esteve preso a uma relação desgastante sabe: não é simples assim. Porque, no meio do sofrimento, ainda existe afeto, história, expectativas — e um enorme medo do que vem depois.
Você pode estar vivendo:
Relações marcadas por controle, ciúme, silenciamento ou culpa;
Amizades onde se sente usado, diminuído ou invisível;
Ciclos de término e retorno que se repetem sem resolução;
Medo de se arrepender ou de “não encontrar algo melhor”.
Essa ambivalência é legítima. Ela faz parte de qualquer processo de rompimento. O que não pode acontecer é silenciar esse sofrimento por mais tempo, fingindo que está tudo bem.

Kierkegaard e a angústia da escolha: entre o medo e o salto
Para Kierkegaard, toda escolha verdadeira envolve angústia. Escolher, de fato, é renunciar a algo. E quando o que está em jogo é sair de uma relação, o medo se intensifica: medo de perder, de errar, de sofrer, de ficar só.
Kierkegaard chama isso de salto de fé: um momento em que, mesmo sem garantias, somos chamados a agir. Não por impulso, mas por compromisso com quem desejamos ser.
A angústia, nesse sentido, não é um sinal de que você está errado — é sinal de que a decisão é real. E só quem sente a profundidade da escolha pode compreender a coragem que ela exige.
Você tem medo de partir… mas o que tem perdido ao ficar?
Algumas perguntas que podem abrir reflexão:
O que você tem sacrificado para manter essa relação?
Você se reconhece em quem é hoje dentro desse vínculo?
O que você teme mais: a solidão ou a repetição da dor?
Ficar onde se sofre pode parecer mais seguro do que o desconhecido. Mas nenhuma permanência vale a perda de si mesmo.
Psicoterapia: um espaço para sustentar a dúvida e construir decisão
A psicoterapia não te diz o que fazer. Ela te ajuda a escutar o que já está gritando dentro de você. Te apoia a sustentar a dúvida, sem pressa de decidir — e a construir coragem para agir quando sentir que é o momento.
Com o tempo, a terapia pode te ajudar a:
Reconhecer os efeitos emocionais dessa relação;
Entender o que te prende e o que ainda te protege;
Resgatar sua voz e sua liberdade de escolha;
Enfrentar a saída com mais apoio interno e menos culpa.
Você não precisa ter certeza. Precisa se escutar com verdade.
Nem sempre temos certeza antes de agir. Às vezes, o que temos é apenas a sensação de que não dá mais para continuar assim. E isso já é um começo.
A psicoterapia pode ser o espaço onde, aos poucos, você transforma medo em força silenciosa, dúvida em decisão possível, angústia em movimento. Porque sair de um relacionamento tóxico não é só ir embora — é voltar para si.



