Ansiedade na vida adulta: quando dar conta de tudo não basta
- Laura Helena Martins
- 4 de ago.
- 3 min de leitura
Ansiedade na vida adulta: quando se esforçar demais não está resolvendo
Você acorda cedo, corre contra o tempo, trabalha, estuda, cumpre o que prometeu, tenta manter a casa em ordem, tenta ser produtivo, tenta cuidar de si. Mas, no fim do dia, vem o cansaço… e aquela sensação de que, mesmo fazendo tudo, algo continua faltando.
Talvez a vida esteja andando, mas por dentro você sente que parou. Como se estivesse vivendo para manter tudo em pé, sem tempo nem espaço para se perguntar: “É isso mesmo que eu quero?”
Neste texto, vamos refletir sobre esse tipo de experiência usando a lente da fenomenologia-existencial e do mito de Sísifo, reinterpretado por Albert Camus — um símbolo poderoso de como muitos adultos vivem hoje: ocupados, ansiosos e desconectados de si.
A rotina já não funciona tão bem.
É possível dar conta de tudo e, ao mesmo tempo, não estar bem por dentro. Isso acontece quando a vida vira uma sequência de obrigações, e não sobra espaço para escutar o que você sente.
Você pode estar vivendo:
Ansiedade constante, mesmo sem “motivo aparente”;
Dificuldade para relaxar ou descansar de verdade;
Sensação de estar sempre atrasado ou incompleto;
Desânimo, mesmo com metas cumpridas.
Esse esgotamento vem do modo como estamos nos relacionando com o mundo e com nós mesmos.
O mito de Sísifo e a pergunta de Camus: por que continuar?
Na mitologia grega, Sísifo foi condenado pelos deuses a empurrar uma enorme pedra até o topo de uma montanha — só para vê-la rolar de volta ao ponto de partida, todos os dias, para sempre. Uma tarefa interminável, cansativa e sem propósito aparente.
Séculos depois, o filósofo Albert Camus retomou essa história em seu livro O Mito de Sísifo (1942) para pensar sobre a vida moderna. Para ele, Sísifo representa o ser humano que repete tarefas cotidianas sem saber por quê, que vive no automático, cumprindo rotinas, metas e obrigações que parecem esvaziadas de sentido.
Camus chama isso de “absurdo” — o choque entre o nosso desejo de sentido e um mundo que não o oferece prontamente. A grande questão se torna: vale a pena continuar empurrando essa pedra todos os dias, se nada faz sentido?

A resposta de Camus não é simples, mas profundamente humana: sim, vale — desde que a gente reconheça o absurdo e faça dele um ponto de virada. A tomada de consciência, por mais dolorosa que seja, nos convida a recriar um modo de viver mais autêntico e lúcido. Para Camus, "é preciso imaginar Sísifo feliz" — não porque ele ama a tarefa, mas porque escolhe encará-la de forma consciente, e assim, se torna livre.
Você está vivendo por escolha… ou apenas reagindo ao que esperam?
A fenomenologia-existencial nos convida a pensar que o modo como habitamos o mundo é marcado por desconexão, comparação, pressa e medo de parar.
Algumas perguntas podem ajudar:
Você sente que tem espaço para fazer escolhas verdadeiras hoje?
Está vivendo no seu tempo — ou tentando acompanhar o ritmo dos outros?
O que realmente faz sentido no que você está fazendo?
A psicoterapia pode ser um espaço para voltar a se escutar
Você não precisa esperar “dar errado” para procurar ajuda. A psicoterapia pode ser um espaço onde você aprende a parar, respirar, perguntar e ouvir.
Na terapia, você pode:
Compreender o que está por trás da sua exaustão;
Redefinir prioridades e escolhas com mais liberdade;
Construir um jeito mais humano de lidar com as demandas;
Recuperar presença, leveza e sentido no cotidiano.
A psicoterapia pode ser o lugar onde você finalmente pode parar — sem culpa — e olhar para si com mais gentileza. Um espaço onde a sua pergunta “por que estou tão ansioso, mesmo fazendo tudo certo?” é escutada com respeito e profundidade.



